domingo, 17 de junho de 2012

de manhã


É como quando a gente sente falta de coisas que não chegamos a ter. Quando sentimos falta de como nos sentíamos há tempos atrás. Do cheiro que as coisas tinham. Do som que elas faziam.

É como quando a gente procura defeitos, às vezes até invente alguns, pra justificar a remoção cirúrgica de um pensamento da nossa cabeça. E é como quando os defeitos encontrados e inventados, nem de longe justificam a remoção.

É como quando, por alguma razão a gente sente ser alguma coisa tão certa que elas deixam de requerer justificativas. É ficar preso num círculo vicioso delicioso e angustiante. Agonia e êxtase.

É como quando cobrimos a nossa cabeça com o edredom, meio que querendo nos proteger de alguma coisa, que a gente sabe, tá bem dentro da gente. 

Ju

quinta-feira, 17 de maio de 2012

eu tenho


Tenho dentro de mim uma coisa que não devia ter. Uma coisa que não controlo, e talvez nem queira controlar. Uma coisa que as vezes fica quietinha, mas as vezes quer sair.
Tenho em mim uma coisa que não é minha. Que pelo menos não é só minha. Mas  só eu tenho que lidar com ela.
Tenho em mim uma coisa que tinha tudo pra ser boa, mas assusta. Tenho uma coisa que atrapalha.
Mas tenho em mim, a certeza de que o controle é meu, e que esperar não é mais uma opção.
Tenho atitudes a tomar.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mandiocas


Quanto vale o querer? Como medir o valor de cada coisa? É o tanto que você precisa dela? Ou o quanto você quer?
Precisar, precisar mesmo, nós precisamos de mandioca. Comida e água. Um abrigo pra nos protegermos dos predadores e de roupa para nos protegermos do frio ou do excesso de sol. De mais nada. Acontece que um dia, trocamos a mandioca que tínhamos sobrando por um cacho de uvas suculentas que o nosso vizinho plantou, e tomamos gosto por aquele docinho na boca. Conseguimos uma pele de um animal que era mais macia que aquela outra, e um abrigo mais arejado do que aquela primeira caverna úmida e escura. A partir de quando experimentamos uma coisa melhor meio que desenvolvemos uma necessidade da coisa melhor.
A sensação esquisita que eu tenho todos os dias ao subir o elevador da instituição financeira em que trabalho, quando penso em todas aquelas pessoas subindo, cada qual pro seu andar, pra sua mesa, para produzir apresentações em PowerPoint para mostrar aos acionistas quanto ganhamos ou perdemos no último trimestre (dinheiro, não mandiocas). Tudo fica absurdamente sem sentido quando penso eu no final das contas o que importa mesmo é tão somente a mandioca, o abrigo e a roupa. Não faz sentido.
De uma forma primária não faz. Mas sabe o que aconteceu? Eu também comi aquela uva. Eu dormi em cima da pele macia e me abriguei na caverna arejada e voltar atrás já não é admissível. Eu preciso daquilo. Desenvolvi necessidade daquilo. Então eu me submeto a trocar o meu trabalho de produzir apresentações em PowerPoint (que, aparentemente alguém precisa) por dinheiro, pra eu poder trocar por todas as outras coisas que eu preciso.
 Se o foco for só a troca, num âmbito comercial, eu tenho muitos exemplos. Vale mais uma pessoa pagar por uma viagem de 1 semana ou por um tablet? Um telefone bom ou uma moto mais ou menos? A prestação de um apartamento ou almoços agradáveis com coca cola? Por que a gente tem que abrir mão de uma coisa pra ter a outra? É mesmo necessário abrir mão? Não seria necessária apenas a capacidade de se administrar o consumo?
Com um foco um pouco menos comercial, é necessário avaliar o prazer que o consumo vai gerar. Eu preciso de comida. Ponto. Mas se puder ser aquela lagosta ao Thermidor eu vou ficar muito mais satisfeita. Precisar, precisar mesmo, eu não preciso, mas ah! É bom demais! Eu posso lavar meu cabelo com sabão de coco, mas ele fica muito mais bonito e sedoso se eu usar aquele xampu diferente e hidratar com aquele creme importado. Eu posso descansar do meu trabalho na minha casa, só ficando lá sem fazer nada, mas se eu puder viajar pra praia num hotel onde eu não me preocupar com nada, eu prefiro. Eu preciso me deslocar para o meu trabalho e posso fazer isso a pé, a cavalo, de carro ou de metrô. Mas e se eu fizer o mesmo percurso de moto, com o vento sacodindo os meus cabelos e aquela sensação de feriado, por que não? Quanto vale a sensação?
Tirando totalmente o foco comercial, vale a pena perguntar quanto vale um sorriso? Vale a pena chegar atrasada ao trabalho pra dar tempo de fazer um cafuné a mais no seu filho? Vale a pena deixar de descansar pra ir àquele show com seus amigos? Vale a pena enfrentar algumas barreiras por momentos de prazer? Vale valorizar pessoas que estão ao seu lado e te valorizam? Vale pesar as coisas e abrir mão de sentimentos bons pela mera possibilidade de ter sentimentos ainda melhores?
Pois eu digo sim. Vale. Só o que temos é o que fazemos e sentimos agora. E é agora que vale. É conseguir fazer alguma coisa só pra atender a um desejo que a gente tem.
Valeu?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Retrospectiva

Esse ano eu andei de navio. E de avião, carro, 4x4, ônibus e moto.

Esse ano eu subi uma duna pra ver um pôr de sol que não foi visível.

Esse ano eu vi a primeira presidenta do Brasil receber a faixa do melhor presidente que o Brasil já teve.

Esse ano eu cozinhei coisas novas. Cozinhei pras minhas cozinhas.

Esse ano eu estudei matemática com o Vinícius e descobri que eu não lembro de nada. Aprendi a calcular MMC e MDC de novo.

Esse ano eu levei uns sustos.

Fiz uma nova tatuagem.

Troquei de carro.

Senti coisas que eu não sentia há muito tempo.

Comi coisas deliciosas.

Aprendi a andar de moto. Fui reprovada na prova de moto. Duas vezes. Passei na terceira e tirei a carteira de moto. Comprei uma moto.

Torci pra chover. Torci pra não chover. Torci pra parar de chover.

Comecei a montar um quebra cabeças.

Tive esperança.

Eu me frustrei. 

Comprei um computador novo.

Joguei jogos de computador. E de videogame.

Tomei banhos de banheira.

Dirigi na estrada.

Fui em um show.

Construí um robô.

Fiz coalhada.

Iniciei novas coleções

Fui nas últimas festas de escola do Vi. Adorei.

Tomei poucos porres.

Tomei cerveja de trigo vencida.

Arrumei confusão na rua. Chamei a polícia.

Tomei a vacina do sapo.

Tomei muito café. Comprei uma máquina de café.

Não fiquei doente.

Cortei o cabelo. Pintei o cabelo. Apareceram mais cabelos brancos. Pintei de novo. Eles apareceram de novo. Ainda não pintei de novo.

Fui em alguns casamentos.

Não fui em alguns casamentos.

Tirei fotos, saí em fotos.

Tive uma unha encravada.

Fui num samba na casa da dona Babe.

Cuidei de 5 meninos pré adolescentes.

Ganhei um sobrinho querido. Cuidei dele. Supri meu instinto materno.

Tive vontade de ter filhos. A vontade passou. Depois ela voltou. Depois passou de novo. E voltou...

Briguei com a família.

Brinquei com a família.

Assisti muitos filmes. E seriados. Li alguns livros. Menos do que eu queria.

Brinquei com o Vi. Andei de moto com o Vi. Conversei com o Vi. Vi o Vi desenhar. E jogar. Vi o Vi ser graduado no Tae Kwon Do. Dormi agarradinha com o Vi. Coloquei o Vi num ônibus pra ele viajar sozinho pela primeira vez. Vi pentelhos no saco do Vi. Percebi que o Vi ta crescendo.

Aceitei novos desafios no trabalho. Fui reconhecida no trabalho.

Decidi comprar um imóvel.

Chorei com a morte de alguns. Duvidei da morte de outros. Festejei a morte de outros.

Abracei.

Beijei.

Ri de besteiras

Passei menos tempo com meu pai do que ele merecia. Mais tempo no meu trabalho do que ele merecia.

Gastei dinheiro com besteiras. Gostei das minhas besteiras.

Escrevi pouco.

Me senti feliz.

Me senti sozinha.

Me senti perdida. Me encontrei.

Senti saudades.

Senti orgulho.

Emagreci.

Cantei no carro, como se fosse uma artista.

Cheguei a algumas conclusões importantes.

Percebi que é possível eu estar certa, mesmo com 95% da população mundial pensando o contrário.

Aprendi. Aprendi. Aprendi muito.

Tive papos excelentes!

Presenciei mais dois fins do mundo. O mundo não acabou. Anotei na agenda a data do próximo fim do mundo.

Percebi que eu sou mesmo diferente. Mas que tem gente diferente por aí, feito eu.

Tive que olhar coisas por outros ângulos.

Levantei meu copo para brindar o fato de que eu estava errada. De um jeito certo!

Não participei de nenhum amigo oculto.

Ajudei o papai Noel a se vestir.

Fiz resoluções de ano novo fáceis de resolver.

Comprei uma cota do bolão da mega sena.

Deixei de jogar papel picado pela janela no último dia do ano.

Escrevi uma retrospectiva dos fatos do ano.

Desejei ter, e que todos tenham, um 2012 incrível.

Ju

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Aim high and don´t shoot yet


A Gisele Bündchen, a título de exemplo, é uma mulher linda. Milionária tão somente por que é linda e mostra isso pra quem quiser ver, em fotos e passarelas. “Olha, eu sou linda!”. No meu caso, citaria o exemplo do Selton Melo que é lindo, mas pra ser mais padrão, vamos aos Brad Pitts da vida. Lindos! Parabéns! E eles sabem disso.
A Luize Althenhofen, (sei lá, é difícil pra mim ter esse parâmetro) é gostosa. É admirada por isso. Esse é o grande lance dela. E ela sabe disso.
Temos alguns grandes altletas! Pelé, o tal Neymar, a Daiane dos Santos. Eles são bons no que fazem! Olha, parabéns! Vcs são realmente bons! Eles sabem disso.
Temos artistas! Robert De Niro, Van Halen, Picasso, Aleijadinho... Os caras são (eram) bons no que fazem. E eles sabem disso. Palmas!
Temos alguns grandes cientistas e visionários. Einstein, Jobs, Gates. O mérito é todo de vocês, e realmente é.
Agora, quando passamos para um mundo mais real, menos cheio de celebridades, nos deparamos com um problema sério. As pessoas não se sentem a vontade pra se destacar em algumas áreas. As pessoas, via de regra se vestem de uma (falsa) modéstia pra não assumir seus méritos.
Pô, eu acho que cozinho bem. Eu gosto da minha comida, e as pessoas também gostam. Mas aparentemente eu não posso responder “sim, eu cozinho bem” sem parecer petulante.
As pessoas tendem a não gostar que pessoas comuns, que andam pelas ruas como nós mortais, se destaquem. Na cozinha, no trabalho, no volante ou nos conhecimentos diversos. Isso tem que ser velado. Se aluém se torna uma celebridade no tal ramo que se destaca, talvez sim, possa assumir que é bom naquilo e até – porque não? – melhor que você.
Sem perder de vista que precisamos sim ser humildes e respeitar as diferenças e capacidades de cada um, eu defendo o direito das pessoas se destacarem na vida real sem se preocupar em ser vítima de inveja ou ciúme dos que não estão no mesmo patamar. Por que verdade seja dita, as diferenças existem, e que bom que sim!
Precisamos ser humildes também pra entender que fatalmente existirão outras pessoas melhores que a gente em diversos outros aspectos. E que isso é legal.
Quero ter certeza de que cada ser humano tenha uma habilidade incrível na qual se destaca. E quero que essa criatura possa nos mostrar isso para que o nosso padrão seja superior. Para que nós, que não temos aquela habilidade específica possamos ter um alvo alto. Possamos tentar alcançar algo maior.
 O meu voto hoje vai para que a gente possa mostrar o que temos de melhor, sem achar que com isso eu vou desestimular outras pessoas, mas com a intenção de inspirar para que todos busquemos melhorar.
Pra baixo não é legal...  Lembrando da música do Yes (Shoot High, aim low), essa atitude é dar uma chance pra que miremos alto!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Malditas sejam...

Malditas sejam as alterações hormonais. Malditas sejam as fechadas no trânsito. Malditos sejam os dias que amanhecem chuvosos. Malditos sejam os domingos a tarde. Maldito seja tudo que faça a gente questionar sobre prioridades. Pensar sobre protagonistas e coadjuvantes. Malditas sejam as pulgas que ficam atras das orelhas. Maldito seja o sentimento de esperança, que nada mais é do que a acomodação autorizada pela fé de que as coisas conseguem se acertar sozinhas. Malditos sejam os jornais que só dão notícias ruins. Maldito seja o mundo que fabrica tão poucas notícias boas. Malditas contas pra pagar, carros pra lavar, vagas pra estacionar, relatórios pra entregar. Malditas confraternizações obrigatórias e interações sociais. Malditas combinações de roupas e cremes de cabelo que acabam. Malditas drogas que inventam de ser proibidas quando poderiam servir tão bem. Maldita consciência. Malditos raciocínios que me fazem enxergar fatos sem fantasias.

Vou ali comprar um chocolate.

Ju

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

So long, and thanks for all the fish

O que nos faz sair do lugar? O que faz que um dia cheio de problemas seja apenas mais um dia a se passar com aquela sensação de missão cumprida no final? A cenoura é a resposta;

O ser humano precisa de paixões. Nós temos que ter algo que nos motive, que nos faça querer vir trabalhar numa segunda preguiçosa, ou sair pra malhar num sábado chuvoso. Nós seres humanos precisamos de um estímulo qualquer, qual o burro com sua cenourinha amarada na ponta da vara, a ser perseguida infinitamente, sem esmorecer, por que a recompensa, ele sabe, é válida! Nós seres pensantes, abstraímos pensamentos de todos os tipos quando temos diante de nós as nossas cenouras.

Eu trabalho no que eu gosto? Então nem vejo que tá tão cedo quando saio de manhã que tenho até que acender os faróis. Aquela calça jeans linda vai fechar? Sempre gostei de alface, acelga, rabanete e tomate de almoço. Eu vou poder dar boas gargalhadas com meus amigos? Nem percebi que a reunião demorou tanto assim. Eu acho que vou me dar bem naquela prova? Não tem problema perder mais uma sessão de cinema, vai? Ele vai sorrir quando me encontrar ficando com aqueles olhinhos apertadinhos? Nem vi que agendei o pagamento de 6 parcelas de impostos a vencer.

É assim que funciona. Com as cenouras, a realidade muda. As coisas ficam fáceis. O dinheiro que não dá, dá. A balança que cobra o excesso do final de semana, te perdoa. Com as paixões, o trabalho é mais agradável. Cinco minutos de companhia dos bons amigos valem mais que cinquenta minutos de reunião. Uma horinha em um café e conversa jogada fora apagam os problemas de um mês de trânsito.

O complicado é quando não tem a cenoura. Quando as paixões estão escassas. Nada parece dar certo. A sensação de que tem uma correia patinando e que a gente não sai do lugar. Nada parece valer realmente a pena. O sono pesa mais que o trabalho bacana. Somos magras tristes, nas calças jeans dos sonhos. A reunião estressa tanto que não consigo nem achar graça do que os meus amigos dizem. Tenho certeza que nunca vou passar naquela prova e os olhinhos apertados dele riem de você e não pra você.  Quando não se tem um foco, uma recompensa nada parece dar muito certo.

As coisas não tem lá muito sentido. Isso que eu faço não me leva a lugar algum. Vou abandonar tudo e todos e vender pulseirinhas hippies na beira da praia que é o melhor que eu faço. Ganhar o suficiente pra comer. Não precisar conviver com gente, esse bicho complicado. Adeus, sem dar muita satisfação pra quem fica. So long and thanks for all the fish!

Mas é uma questão de parar e olhar pros lados. Por que às vezes, a recompensa está muito mais próxima do que se consegue perceber. Nem sempre é uma cenoura. Às vezes é o reconhecimento de um trabalho, um cafuné, um bolo de chocolate do café Martinica, um beijo na boca, um banho de hidromassagem ou um comichão de adolescente quando se escuta uma música bonita. Cabe a nós também, fazer valer a pena. Cabe a nós encontrarmos nossas cenouras.

Ju